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sábado, 10 de abril de 2010

Porto Alegre - o início

Os primeiros habitantes da região onde localiza-se Porto Alegre pertenciam ao grupo indígena guarani, instalados ao sul, pelas margens do” Guaybe”. Ao norte, pelas margens do Gravataí, (atual Bairro Passo da Areia) localizavam-se os Tapi-mirim (moradores da pequena aldeia), adversários dos tapi-guaçu (moradores da grande aldeia), residentes na outra margem do Rio Gravataí.
Estabelecido pelo Tratado de Tordesilhas de 1494, o domínio português terminava onde hoje localiza-se a cidade de Laguna, Santa Catarina, pertencendo o Rio Grande do Sul a Coroa espanhola, ocupada por jesuítas na região conhecida como Missões. Entre 1580 e 1640 Portugal foi subjugado pela Espanha, extinguindo-se os limites do tratado. Como não havia um grande interesse de nenhum dos dois países pela região, os portugueses passaram a percorrer o estado e estabelecer estâncias de súditos de portugueses, retomando sua soberania.
No início da colonização, como não existia um sítio urbano estabelecido, os estanceiros da região aproveitavam as margens do Guaíba como meio de ligação com cidades como Rio Grande e Rio Pardo. Esta região era conhecida como campos de Viamão, distrito de Laguna (Santa Catarina), e foi escolhida por estender-se por longas distancias planas, grandes bacias ribeirinhas que desmbocavam no rio Jacuí, ilhas com abundante vegetação e uma grande massa de água potável, o Guaíba. Até 1740 conhecido como porto de Viamão, a área foi concedida a Jeronimo de Ornellas, tropeiro originário da Ilha da Madeira, como sesmaria, passando a chamar-se “Passo do Dorneles”. Segundo o historiador Walter Spalding localizava-se na foz de um pequeno riacho, onde hoje localiza-se a Ponte de Pedra do Largo dos Açorianos.
No início, Jeronimo de Ornellas não tinha intenção de estabelecer um povoamento, mas utilizar os campos para recolher o gado, reproduzi-lo e posteriormente comercializar os animais na região de minas Gerais, ou através de contrabando para o exterior. Ao receber em 7 de dezembro de 1744 Carta Régia confirmando a posse das terras, intensificou a criação de gado e, incomodado pela ocupação dos açorianos na Ponta da Península, vendeu-as para Ignácio Francisco, tornando-se esta área a primeira desapropriada para demarcação de áreas agrícolas e ruas da futura Porto Alegre. Tendo construído uma casa no alto do morro Santana, trouxe para cá seus parentes e agregados, constituindo uma comunidade de aproximadamente 100 almas.
O governo português, preocupado com a disputa com os espanhóis pela região após o Tratado de Madrid (1750) e necessitando reduzir o superpovoamento das ilhas dos Açores, enviou em 1752 os primeiros casais açorianos para o então Porto de Dorneles, que passou a ser conhecido como o “Porto dos Casais”, servindo posteriormente de apoio a ocupação de outras regiões do Rio Grande do Sul. Com a tomada pelos espanhóis em 1763 da Vila do Rio Grande, os portugueses navegaram pela Lagoa dos Patos, transformando Viamão por uma década em capital da província.
Em 1752 o governador José Marcelino de Figueiredo transferiu a sede da Capitania de São Pedro do Rio Grande do Sul para o então Porto dos Casais, escolhido por sua posição estratégica. Nesta época, a capital era um atracadouro nas sesmarias de Jeronimo de Ornelas de Menezes e Vasconcelos, Sebastião Francisco e Dionísio Rodrigues Mendes, e de alguns imigrantes instalados na rua da Praia. Tratava-se de 3 estâncias que ocupavam áreas de mais de 13 mil hectares cada uma, estendendo-se desde o rio Gravataí até o arroio do Salso, tendo como limite ocidental o rio Guaíba. As sesmarias de Jeronimo de Ornellas e Sebastião Chaves eram divididas pelo arroio Dilúvio (chamado em alguns trechos de “do sabão”, “da Azenha”, “do riacho” e “do riachinho”). As terras de Sebastião Chaves e as de Dionysio Mendes eram limitadas pelo arroio Cavalhada. Dionísio Rodrigues Mendes era o dono da Sesmaria de São Gonçalo, com sede no local onde se formou Belém Velho. Tinha duas léguas de frente a fundos, e correspondia aos atuais bairros da Vila Assunção, Vila Conceição, Pedra Redonda, Camaquã, Cavalhada, Tristeza, Ipanema (parte), Vila Nova e Belém Velho.
A Sesmaria de São José pertenceu a Sebastião Francisco Chaves, que em maio de 1733 requereu os direitos sobre as terras situadas logo ao sul do Arroio Jacareí, recebendo a concessão em 30.3.1736. A sede da sesmaria era próximo ao local onde hoje se situa a Gruta da Glória. Tinha duas léguas da frente a fundos. Estão compreendidos nessa extensão os atuais bairros Praia de Belas, Menino Deus, Azenha, Santana, Partenon, Santo Antônio, Medianeira, Glória, Teresópolis, Nonoai, Santa Teresa e Cristal.
A estância de Sant’ana, de propriedade de Jeronimo de Ornellas, foi erigida nos altos do morro Santana, abrangendo uma área que acabava na ponta da península Ponta do Gasometro (anteriormente Ponta do Arsenal ou Ponta da Cadeia).
Por volta de 1752 através de proclamações publicadas em São Paulo e Santa Catarina, os açorianos foram conclamados a se deslocarem para o sul. Aproximadamente 200 açorianos se apresentaram, e destes oitenta deveriam ficar no sítio de Viamão para construção de embarcações para transporte e exploração, utilizando as margens do Guaíba para sobrevivência e alimentação. Desta forma iniciou o povoamento, com a construção de um cemitério na beira do rio e próximo da Praça da Harmonia, transferido depois para o Morro da Praia (atual Praça da Matriz). Em 1798 foi erguida uma capelinha de barro, coberta por palhas, localizada na Rua dos Andradas (onde funcionou até recentemente o cinema Guarany), em homenagem a São Francisco das Chagas. Logo que foi possível, as construções melhoraram de qualidade, seguindo o estilo típico colonial de herança portuguesa, utilizado em todo o Brasil, e que poderia ser classificado historicamente como uma derivação do Barroco.
Com o crescimento do interesse pela região, ocorreu a construção de alguns estaleiros, crescimento populacional e expansão desordenada do povoado, tornando-se necessário o estabelecimento de traçados de ruas e caminhos, distribuição de áreas agropecuárias, provocando em 26 de março de 1772, a criação da Freguesia de São Francisco de Porto dos Casais, com jurisdição própria, os primeiros serviços públicos, e a separação da freguesia de Nossa senhora da Conceição de Viamão. Eram todos os moradores, a partir desta data, porto-alegrenses, nome popular atribuído ao movimentado porto e a sua gente. O governador ordenou ao capitão de engenharia e cartógrafo Alexandre José Montanha que elaborasse a primeira planta da cidade. O que no início constituía um aglomerado de casas de palha ao longo de três ou quatro ruas, nomeadas pelo principal ou mais antigo morador, com a chegada dos casais açorianos e o início da construção de olarias, surgindo as primeiras casas de pedra, cobertas de telhas. Localizavam-se na Rua da Praia, próximo a atual ponta do Gasometro. Casinhas brancas com janelas e portas azuis se espalharam pela atual Washington Luiz, Duque de Caxias e Riachuelo.
Posteriormente surgiram chácaras ao longo da estrada da Azenha, até a ponte de madeira construída por Chico da Azenha, ocupando o atual Parque Farroupilha. Onde atualmente localiza-se a Praça de Alfandega foi construída a primeira igrejinha do povoado. Casais instalaram-se no alto da av. Independência, onde plantavam e moíam trigo.
O rio Guaíba estendia-se até a Praça da alfândega, Rua Siqueira Campos, prosseguindo até o Navegantes (Rua Voluntários da Pátria).
Os atuais bairros Partenon, Medianeira, Glória e até Itapuã haviam estâncias, que forneciam a carne e o leite para o povoado.
A primeira construção de vulto foi o Palácio de Barro, erguido em 1773, com projeto de José Montanha, para receber a administração. Concluído em 1789 e utilizado até 1896, quando foi demolido. O projeto compreendia uma construção em dois pisos e uma água-furtada, de composição simétrica (porta central com quatro janelas de cada lado), repetidos no 2° pavimentos sem a porta central. A cobertura era composta de um telhado com quatro águas. As aberturas eram em forma de arco abatido (característico do Barroco colonial), e nas aberturas superiores uma cornija ornamental em curva.
A Igreja Matriz, iniciada em 1780, e cuja construção foi ordenada na provisão eclesiástica que criou a freguesia, a partir de um projeto sem autoria conhecida enviado pela Arquidiocese do Rio de Janeiro, foi o projeto mais ambicioso do início do povoamento. Projeto em estilo Barroco tardio (Rococó), simples e sem qualquer ornamento externo, composto de uma fachada de dois pisos no corpo do prédio, em esquema tripartido, com aberturas decoradas, frontão ornamental e duas torres laterais para os sinos. Internamente, a decoração em estilo Rococó flamejante e vigoroso, com um vestíbulo sob o coro, uma nave, uma capela-mor com um retábulo cenográfico ao fundo, altares secundários em nichos laterais e estatuária.
Da mesma época e erguida como os outros prédios na colina mais alta da cidade (atualmente Praça da Matriz), é a Casa da Junta, em estilo próximo ao do Palácio de Barro, com menores dimensões. Ainda existente, é a edificação mais antiga, apesar de uma remodelação executada no século XIX. Foi utilizado como sede da Assembléia Legislativa e Junta de administração e Arrecadação da Fazenda. A elite local estabeleceu suas residências em volta da Praça da Matriz.
Com a importância assumida pela nova capital, o governador passou a se preocupar com a sua segurança. Pelo rio era praticamente impossível um ataque. Por terra, em função do posicionamento do centro em uma península, ataques pela fronteira leste eram possíveis. Foi autorizada a construção de uma trincheira, e colocado um portão em um largo próximo a Santa Casa de Misericórdia, que controlava a entrada e saída dos moradores e forasteiros. A obra se prolongaram por 5 anos, concluídas em 1778.
Freguesia de São Francisco do Porto dos Casais, após um ano Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre, praticamente sem construções e população. O governador Paulo José da Silva Gama através de cartas dirigidas à Coroa, obteve uma Carta Régia em 19 de agosto de 1806 regulamentando as quatro vilas que integrariam a capitania: Rio Grande, Vila Príncipe (Rio Pardo), Vila Anádia (Santo Antonio da Patrulha) e Porto Alegre que tornou-se a mais importante cidade dos gaúchos sem ter se tornado oficialmente uma vila, fato somente corrigido em 11 de dezembro de 1810, através do “Auto de Criação desta vila de Porto Alegre” lavrado pela Câmara Municipal. No dia 13 do mesmo mês e ano foi lavrado o “Auto de Demarcação e Declaração dos limites que ficam pertencendo a esta Vila de Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre”, levantando-se na mesma data um pelorinho tosco, de pedra bruta, com aproximadamente um metro e meio.

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