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sábado, 19 de junho de 2010

Déco e Modernismo

Acima, Mercado Público (demolido) e abaixo Ceasa
 Adepta da Déco foi a geração seguinte, onde se destacaram Fernando Corona, Armando Boni e Joseph Lutzenberger. A estética Déco abandona o decorativismo pesado do Ecletismo tardio em busca de soluções com ornamentação reduzida e mais integrada à funcionalidade e estrutura dos espaços, o que, junto com avanços na técnica construtiva, possibilitou o início do processo de verticalização da cidade. Suas obras refletem essa síntese nova, uma nova visão de progresso e de beleza ligados à simplicidade, racionalidade, praticidade e autenticidade estrutural, idéias que seriam levadas a uma radicalização com os modernistas. A presença Déco foi detectada entre os anos 20-30, antecedendo o Modernismo arquitetônico na cidade em cerca de 10 anos.
Corona iniciou como escultor, aluno de Friedrichs, mas logo aventurou-se na arquitetura, com bons resultados. Foi dele a adaptação do exterior de um projeto de Wiederspahn para o Banco da Província, atualmente o Santander Cultural, e mais o projeto da Galeria Chaves e do Instituto de Educação Flores da Cunha.
Galeria Chaves
Instituto de Educação Flores da Cunha
 Boni criou o edifício da Livraria do Globo, a Concha Acústica do antigo Auditório Araújo Vianna e o Cemitério São Miguel e Almas, o primeiro cemitério vertical da América Latina, além de várias outras obras públicas e privadas, como a sua própria residência.
 Auditório Araújo Vianna
Livraria do Globo
E Lutzenberger veio da Alemanha para trabalhar na construtora Weis & Cia, projetando prédios importantes, tais como a Igreja São José, o Palácio do Comércio e o Instituto Pão dos Pobres.
Instituto Pão dos Pobres
Igreja São José
Palácio do Comércio
 As obras dos três criadores foram saudadas pelos seus contemporâneos como marcos da arquitetura mais moderna e arrojada, e permanecem entre os mais significativos exemplares da arte edificatória na cidade no período entre-guerras, sendo várias delas tombadas pelo poder público.Mas de acordo com Davit Eskinazi, foi só a partir de meados da década de 30, mais precisamente por ocasião da Exposição do Centenário Farroupilha em 1935, que começaram a surgir no cenário urbano de Porto Alegre os primeiros exemplares de uma arquitetura moderna:
"Conciliando a arquitetura efêmera de seus pavilhões com alguns elementos permanentes do futuro Parque Farroupilha construídos na mesma oportunidade, a Exposição do Centenário apresentou-se como o principal símbolo da modernidade possível e desejável para o Estado, em um período de profundas transformações para a sociedade brasileira. Amplamente apoiada em recursos tecnológicos, como a deslumbrante iluminação noturna dos espaços e pavilhões do evento, e conduzida por uma bem informada retórica déco, a Exposição articulou um notável conjunto arquitetônico e urbanístico que sintetizou uma visão de modernidade comprometida com a tradição neoclássica, provocando um impacto visual sem precedentes sobre seus contemporâneos. (…) Embora efêmera, a arquitetura produzida para a comemoração do Centenário Farroupilha constitui um testemunho consistente das origens de um possível "caminho riograndense para a arquitetura moderna", percorrido através de um conhecimento inspirado e bem informado, tanto das manifestações protorracionalistas do "novecentos", como, por exemplo, o movimento da "Secessão" austríaca, quanto das correntes não ortodoxas da arquitetura moderna, como os movimentos expressionista e futurista das primeiras décadas do século XX".
Nos anos 30 o antigo Plano Geral de Melhoramentos já estava obsoleto, e a cidade exigia uma nova organização. Edvaldo Paiva e Ubatuba de Faria, funcionários do município, e Arnaldo Gladosch, contratado no Rio, esboçaram alguns ensaios de reorganização da malha urbana central de acordo com os princípios modernos, mas nenhum se implantou em plenitude. Paralelamente foi ideado outro modelo para a expansão periférica e horizontal da cidade. Vários bairros ou loteamentos residenciais surgidos principalmente nos anos 1930 e 1940 propuseram uma interpretação local do protótipo da "cidade-jardim", com um traçado orgânico, construções isoladas em baixa escala e densa vegetação, cujos melhores exemplos são a Vila Jardim, a Vila Assunção e a Vila Conceição.
Vila Conceição
Uma década depois tudo que um dia fora tradição em arquitetura parecia ter desaparecido, e a vanguarda já trabalhava apenas com formas geométricas essenciais, despojadas de todo artifício decorativo. De 1946 é um dos primeiros prédios erguidos em Porto Alegre na estética tipicamente modernista, o Colégio Venezuela, de Demétrio Ribeiro, retendo apenas traços residuais da arquitetura tradicional. Na mesma época começou a atuar na cidade Edgar Graeff, formado na Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil, tendo tido um contato de primeira mão com os pioneiros do Modernismo no Brasil. Seu trabalho induziu uma adoção mais ou menos geral de elementos derivados da obra de Lúcio Costa, Oscar Niemeyer e outros expoentes da escola carioca. Segundo Carlos Goldman, "Na década de 40 Edgar Graeff contribuiu para a evolução desta arquitetura (…). O impacto de residências como a projetada para Edvaldo P. Paiva foi um marco divisor no campo das idéias, dos costumes e da cultura arquitetônica em Porto Alegre, transpondo para o nosso contexto local estratégias e elementos de arquitetura que até então eram usadas principalmente por arquitetos do Rio de Janeiro e São Paulo. Tais propostas arquitetônicas manifestaram localmente o pensamento moderno preconizado por Le Corbusier". 
Edifício Nunes Dias, década de 30-40.
Detalhe do Colégio Júlio de Castilhos, 1953.
Palácio Farroupilha, 1955.
Outro nome de relevo, chegado à mesma altura e com a mesma formação foi Carlos Mendonça, deixando grande número de trabalhos em menos de uma década de atividade, alguns de grande porte.Em 1948 criou-se o departamento estadual do Instituto de Arquitetos do Brasil, abrindo um novo fórum de debates especializados, e 1949 se formou a primeira turma de arquitetos do Instituto de Belas Artes da UFRGS, introduzindo um fluxo agora regular de novos e bons profissionais no mercado. Chegando aos anos 50 o Modernismo já estava coroado pela oficialidade. Construções emblemáticas como o Palácio Farroupilha, assinado por Gregório Zolko e Wolfgang Schoedon, para sede da Assembléia Legislativa, e o Palácio da Justiça, projeto de Fernando Corona e Carlos Fayet, ambos fruto de concurso público, foram levantados segundo princípios totalmente modernistas. Dentre outros projetos de interesse nessa fase pode-se citar o Hipódromo do Cristal e o Edifício Esplanada, ambos do uruguaio Román Fresnedo Siri; o Hospital Fêmina, de Irineu Breitman; a sede antiga do Aeroporto Salgado Filho, de Nelson Souza; a Faculdade de Farmácia da UFRGS, de Flávio Figueira Soares e Lincoln Ganzo de Castro; e o traçado inicial do Hospital de Clínicas, de Jorge Moreira, o qual, se não tivesse sido desvirtuado mais tarde se constituiria, segundo Marcos da Silva, num dos marcos arquitetônicos da capital gaúcha. Por esta época o centro urbano já estava repleto de edifícios de altura considerável, destacando-se Emil Bered e Salomão Kruchin como autores de vários edifícios residenciais.
Centro Administrativo do Estado do Rio Grande do Sul, 1971
A rápida expansão populacional começava a obrigar os urbanistas a encontrarem soluções habitacionais em grande escala. Dentre as iniciativas para solucionar o problema se destaca a construção do Conjunto Residencial do Passo D'Areia, um dos empreendimentos mais bem sucedidos de todos quantos foram executados à época, e que veio a ser declarado recentemente Patrimônio Cultural do município. No fim da década foi implantado enfim o primeiro Plano Diretor de Porto Alegre, composto por Edvaldo Paiva e Demétrio Ribeiro com base na Carta de Atenas, e que se amparou por uma legislação específica (Lei 2046/59). Para Helton Bello com este Plano se acentuou a verticalização da cidade, fazendo Porto Alegre "conhecer o maior crescimento edilício de sua história, o que alterou significativamente a morfologia urbana. (…) Os princípios básicos do Modernismo passaram a compor um instrumento legal através de parâmetros para a estruturação da cidade. Tais padrões consistiam na racionalização das atividades, das vias e na instituição de índices urbanísticos (densidade, potencial construtivo do lote, recuos e altura predial), que foram sendo aplicados segundo o crescimento das áreas urbanizadas".
Como efeito do Desenvolvimentismo de Juscelino Kubitschek e com o acréscimo de um sentimento ufanista gerado pelo Milagre Brasileiro depois do golpe militar de 64, o Modernismo da escola carioca perdeu gradualmente espaço para uma variante brutalista originária em São Paulo, que em torno de 1970 já era a tendência dominante em todo o país. Ela oferecia um apelo plástico vigoroso e monumental num modelo conveniente para o volume e a dimensão das oportunidades oferecidas pelo Milagre Brasileiro, quando o PIB do país crescia numa média vertiginosa de 11,2% ao ano e a ditadura militar recrudescia. A verticalização se acelerou e foram construídos na periferia extensos conjuntos habitacionais financiados pelo Banco Nacional da Habitação. No centro a administração pública realizou intervenções dramáticas, como a construção da Elevada da Conceição, mas a abordagem tecnicista dos projetos desconsiderava aspectos elementares de paisagismo urbano e favorecia a descaracterização do centro histórico, desaparecendo inúmeros edifícios ecléticos, alguns de grande valor, e os derradeiros remanescentes da arquitetura colonial, tanto residencial como pública. Em face do desrespeito oficial para com o passado, alguns intelectuais começaram a protestar contra tantas demolições, lançando as sementes para a formação de uma consciência preservacionista que lentamente iria ganhar corpo entre os portoalegrenses. E como uma ironia a evidenciar as contradições do programa ufanista do governo, nesse período começaram a nascer favelas nos vazios urbanos do entorno, e a cidade foi isolada do Lago Guaíba e do porto que lhe deu o nome com a construção de um extenso muro para prevenção de enchentes.
Faculdade de Tecnologia do SENAC, 1979.
Esteticamente os princípios modernistas continuavam em geral válidos, num desdobramento da Carta de Atenas, o que foi referendado pelo novo Plano Diretor de 1979, embora algumas inovações fossem introduzidas, tais como uma inspiração no modelo das superquadras empregado em Brasília e uma maior participação da comunidade nas decisões através de Conselhos Municipais.[20] A qualidade geral dos prédios, porém, decaiu. Por outro lado, os meios acadêmicos já iniciavam uma revisão do Modernismo e a influência de arquitetos uruguaios se tornou então significativa, introduzindo recursos técnicos inéditos como a cerâmica armada. Algumas das obras de maior projeção neste período foram o Centro Administrativo do Estado, de Charles Hugaud, Cairo da Silva e outros; a Central de Abastecimento, de Carlos Fayet, Carlos Comas e Cláudio Araújo; e os edifícios das indústrias Memphis, de Araújo e Cláudia Frota.

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