Em um dia qualquer de junho, em horário incerto, as águas marinhas, de rio e de lagos em cidades litorâneas de todos os países foram invadidas por estranhos seres que, aparentavam serem humanos, mas totalmente albinos e que, apesar de despidos, não apresentavam características sexuais que pudessem identificá-los, sem pelos ou feições. Chamadas as autoridades locais, estes seres foram conduzidos a hospitais e outros centros de recuperação, onde foram analisados, pesquisados e interrogados, apesar de não emitirem nenhum tipo de som. Com o passar dos dias, grandes transformações começaram a ocorrer, assumindo eles as feições, cores e características das populações locais, em um fenômeno de mimetismo nunca visto. Outra particularidade a ser considerada era o fato de todos estarem assumindo aspecto feminino, jovens e lindas, para assombro dos cientistas e pesquisadores. Decorridas algumas semanas, estas jovens alienígenas começaram a produzir sons, inicialmente alguns monossílabos e pequenas frases sem sentido, mas, absorvendo rapidamente a linguagem e costumes locais, em poucas semanas haviam tornado-se clones dos habitantes da região. Os maiores especialistas dos grandes centros de pesquisa não conseguiam explicar o fenômeno, e as autoridades mundiais, locais e organizações não obtinham um consenso sobre a periculosidade da situação nem sobre a origem destas figuras e se suas intenções seriam pacíficas ou não. Como já se expressavam, foi possível interrogá-las com maior facilidade, mas sem obter êxito em relação aos seus propósitos. Com suas vozes melodiosas, envolventes e suaves, os seres foram tornando-se cada vez mais simpáticos e aceitos pelas comunidades. Passados alguns meses desde a “invasão” inicial, as moças já participavam ativamente das sociedades locais, sendo acolhidas por todos, pois não representavam nenhuma ameaça com suas lindas aparências, adocicados gestos e cativantes palavras. Provocando ciúmes nas mulheres por sua estonteante beleza e maravilhosas qualidades, e atraindo a cobiça e desejo dos homens das localidades, começaram a ser disputadas pelos machos. A todos tratavam bem, ao ponto de as mulheres voltarem sua raiva contra os maridos, noivos e solteiros em geral. Com o acirramento dos ânimos em função das disputas pelas moças, discussões cada vez mais constantes, com altercações, barbaridades, atrocidades, selvageria, truculência, ferocidade e atos de desumanidade. Crimes começaram a ocorrer, mortes e mutilações, homicídios cometidos em função da cobiça, do ciúme e desejo, em uma escalada inimaginável, apesar do esforço das autoridades policiais e dos governantes para controlar os habitantes. Com todos os índices de desenvolvimento em queda, as economias combalidas, as cidades em estado de caos absoluto, sem que os serviços básicos estivessem sendo realizados, o comércio e a indústria paralisados, a barbárie instalada, reuniram-se os governantes para decidir como impedir que este processo abalasse ainda mais o status quo existente. Concluíram que o motivo da desordem eram as alienígenas, e determinaram sua prisão e confinamento. Com muita dificuldade para cumprimento da ordem, pois a maior parte das forças armadas e autoridades policiais recusaram-se a cumprir as ordens, algumas humanóides foram realmente encarceradas, causando a revolta da população local, que tratou de resgatá-las de suas prisões. A rebeldia das comunidades contra a atitude das autoridades e governantes gerou uma revolução generalizada, com a derrubada dos governos constituídos, substituídos pela anarquia generalizada e pela lei dos mais fortes. Passados poucas dezenas de anos desde a aparição dos seres aquáticos, o grande número de homicídios e mutilações, suicídios das mulheres abandonadas por maridos e companheiros, as mortes causadas por epidemias e por fome, o precário atendimento das necessidades básicas como saúde, água e saneamento, redução drástica no cultivo agrícola e na pecuária, na produção de alimentos enfim, em todos os reguladores do progresso e bem estar da sociedade fizeram com que a população fosse reduzida consideravelmente, e a pequena parte sobrevivente mantinha-se de uma forma precária e desorganizada. Por outro lado, as humanóides contemplavam as mudanças sem interferir ou envolver-se diretamente, e permanecendo lindas, jovens e saudáveis como quando de sua chegada. Sem forças e organização para combater os alienígenas, os farrapos humanos definhavam rapidamente, não sendo substituídos pelo nascimento de novos seres humanos.
Em ritmo acelerado e progressão geométrica, em menos de cem anos a raça humana, que havia necessitado milhares de anos de evolução lenta, penosa e gradual, estava se extinguindo melancolicamente, até um dia qualquer em que o sol nasceu em todos os continentes sem um exemplar da orgulhosa, prepotente, superior e invencível, invejosa, cruel, rancorosa, autofágica, homofóbica, racista espécie de homo sapiens.
Missão cumprida. E, por favor, façam direito desta vez.
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