Neoplasticismo, cinismo, inconformismo. Piet Mondrian acreditava na arte como uma composição de cores e, desta forma, desnudou-a para o mundo.
O holandês Piet Mondrian (1872-1944) cresceu em um ambiente rural com uma família calvinista extremamente religiosa. A forte influência das questões metafísicas voltou-se posteriormente para sua conduta artística Mas Mondrian teve dificuldades em projetar-se como um pintor, já que o desejo de seu pai, um pastor puritano, era que ele seguisse uma carreira clerical.
Com a família oposta a sua vontade, pois viam na arte um caminho para o pecado, Mondrian encontra como solução apaziguadora tornar-se professor de artes. Mas esse trabalho não consegue abster a necessidade artística de Mondrian que, por fim, consegue superar estruturalmente a posição ortodoxa de sua família e suas próprias crenças religiosas, provavelmente ao entrar em contato com a teosofia, estabelecendo nesta doutrina uma conexão com sua arte: “O trilhar de um caminho evolutivo pessoal”. Para Mondrian, sua arte fazia parte disso.
Com pincéis em punho, Mondrian iniciou-se principalmente no impressionismo e no naturalismo, mas gradativamente acabou transcendendo a natureza ao incluir tons brilhantes e um estilo cada vez mais abstrato. Em 1912, mudou-se para Paris, tendo contatado com outro estilo, o absorto cubismo de Picasso. Deixou de ser um semi-naturalista e embarcou no crescente movimento artístico da abstração.
Porém, ao invés de seguir a tendência do cubismo, Mondrian criou uma própria, que se acredita dever-se a sua busca espiritual. Desta forma, o artista de consagra como o pai do Neoplasticismo, movimento que defende a total limpeza espacial para a pintura, reduzindo-a a seus elementos mais puros e buscando as suas características mais próprias. Assim se demonstra que a arte é uma criação humana, artificial, ilusória, uma combinação de cores que em um plano macro representa algo.
Mondrian então pintou as suas “composições”, telas de estrutura matemática onde o plano é cortado por linhas verticais e horizontais negras, formando quadrados e retângulos que são pintados com as cores vermelha, azul, ou amarela. Na visão do artista, essa conjunção de estruturas e cores demonstra uma abstração racionalista e sobretudo correta do mundo.
A estrutura visualmente simplista origina diversas críticas a respeito da obra de Mondrian, desde a consagração pela recusa da imagem, até a zombaria, com alguns alegando que uma criança em posse de uma régua e 3 cores poderia reproduzi-la.
A discussão é bastante ampla, de fato, e a frase célebre cai como uma luva: “A beleza está nos olhos de quem vê”.
A discussão é bastante ampla, de fato, e a frase célebre cai como uma luva: “A beleza está nos olhos de quem vê”.
Todavia, Mondrian conseguiu quebrar paradigmas, inclusive os seus próprios, pois em sua última obra inacabada - “Broadway Boogie-woogie” - o artista abandona os traços negros delimitadores criando uma imagem incomum: uma evolução de sua arte, arte esta que em toda sua vida foi transitória.
Por tanto, sinta-se confortável para gostar ou não do neoplasticismo. Sinta-se a vontade para enxergar a arte de Mondrian como uma involução ao invés do contrário. Porém, lembre-se que sua obra impactou na maneira de observar o mundo e enquanto você passa os olhos por esta tela, infinitos quadrados de mínimas proporções chamados píxeis estão agrupados para que Mondrian seja lembrado. Irônico, não?
Sobre o autor: Tiago Vargas se caracteriza como atos em determinadas circunstâncias, ações e reações sobre um caos relativamente ordenado.
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