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sábado, 6 de agosto de 2011

Trilha musical do Urbanascidades

Se fosse possível compartimentar a existência humana através de sons, inseridos em uma play list, a primeira faixa seriam os sons de percussão produzidos pelo coração de nossa mãe, além dos outros ruídos produzidos pelo meio exterior e captados por nossos minúsculos ouvidos.
Expulsos do paraíso, o primeiro som que ouvimos é o da nossa própria voz (e com certeza, também será o último), e vários ruídos e sons vão sendo acrescentados à nossa "memória sonora".
As próximas faixas serão produzidas pelas vozes de nossos familiares, ruídos ambientais e, pela primeira vez, vamos compartilhar a trilha com outros semelhantes através das cantigas infantis.
Nossa vida vai passando e encontramos finalmente seres semelhantes à nós, visto que até agora só convivíamos com gigantes que não nos entendiam, e falavam uma língua estrangeira que não conseguíamos compreender.
A primeira tribo. Vestimo-nos com as mesmas roupas, falamos a mesma língua, temos os mesmos gostos para comidas, amigos e programas, frequentamos os mesmos locais e, apesar dos esforços dos gigantes, caminhamos, inicialmente titubeantes, com nosssas próprias pernas.
Fim da escravidão, a convivencia com nossos pares nos torna fortes e independentes, e aprendemos rapidamente como fugir do jugo dos adultos.
A partir de agora criamos nossa própria trilha e, contrariando os pais, não aceitamos como nossa a Rainha dos Baixinhos. Cada um escolherá suas trilhas, e se reagrupará em novas tribos segundo suas preferencias pessoais ou as impostas pela mídia e pelo marketing. Algumas dessas tribos se relacionarão, outras não, e poderemos participar de várias ao mesmo tempo.
As próximas faixas serão adicionadas conforme o tempo/espaço.
Poderá ser um beatlemaníaco, um fã dos Stones, dos precursores Bill e Elvis, pode gostar de jazz, blues, country, bossa nova, das big bands, dos tropicalistas, dos sertanejos....
Trilhas de protestos contra ditaduras, contras as guerras, trilhas de paz e amor dos hippies, as trilhas revolucionárias e anárquicas dos punks, as trilhas pesadas do rock, um caldo de cultura com muitas faixas.
Verão de 78, praia de Tramandaí, no toca-fita do "besourão amarelo" (para os mais novos um fusca 1600 com dupla carburação, bancos e acesórios esportivos), toca "Cowboy of Dreams, do Crosby e Nash. À frente, o Atlantico e suas frias e não tão límpidas águas, ao fundo os prédios e residencias da praia de Tramandaí. Ao lado, a adolescente paixão de minha vida que, com esta trilha e paisagem, tornou-se amor por toda vida.
Quando o amor entra em nossos corações e mentes, a sonoridade se altera. Compartilhamos estilos, os que odiavam agora cantam e pulam carnaval, tímpanos que não absorviam a estridencia das guitarras "hard rock" escutam trinados de pássaros, bocejos e roncos na clásica melodia percorrem árias, operetas e concertos como abelhas beijam flores.
Consequencia natural, acrescentamos a marcha nupcial à nossa trilha e retornamos ao inicio, ao choro do bebe.
Para muitos esta época torna a trilha um enfadonho repetir de rotinas, encarcerados em multiplas trilhas sem conseguir espaço para rodar a tua.
Para outros, como procuro ser, a preservação de nossa identidade primordial é importante, e perseguindo minha trilha particualr no passado, recordo bons e maus momentos, visualizo cenas e situações como em um filme virtual, BOM ERA NAQUELE TEMPO...
Antenado às novidades, adiciono ao meu set list atualidade, contemporaneidade e experimentação. Claro que a trilha inicial provocou sulcos em nosso gosto musical, e tendemos a aceitar com mais facilidade sonoridades melódicas que reconhecemos.
Se o desgaste natural de nossos frágeis corpos prejudicarem nossa audição, novamente precisamos nos adaptar a esta nova trilha, de sussurros e ruídos imperceptíveis, lembranças sonoras reverberam em nosso cérebro, AUMENTA O SOM QUE NÃO TO OUVINDO NADA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Certamente a única trilha que não gostaríamos de escutar, adiando ao máximo sua audição e, quando finalmente ela começar a rodar, não estaremos presentes para compartilhar com nossos amigos e parentes, e teremos ouvido o som de nossa própria voz, a derradeira trilha, a última e a primeira vez.
Ou, para os que como eu acreditam, até a próxima trilha.
A partir deste final de semana, vou postar algumas bandas e músicas que fizeram parte da minha trilha sonora. Iniciamos com Crosby & Nash, e a música "Cowboys of Dream" do disco "Wind on the Water".
Emerson, Lake and Palmer cantam Lucky Man, escrita por Greg Lake aos 12 anos, e que conta a história de um homem que tinha tudo, foi para a guerra e morreu. "Wish you were here" do "Pink Floyd" é, como boa parte do álbum, dirigida a Syd Barrett, entretanto ela pode ser interpretada como um desabafo de uma pessoa que sente falta de outra. O riff que deu origem à música foi criado por David Gilmour em uma sessão na Abbey Road Studios. Roger Waters escreveu a letra e também trabalhou na composição da música, ao lado de Gilmour.
"Long may you run", parceria da dupla Stephen Stils e Neil Young de 1976 parecia que seria o aguardado album de reunião do antológico C,S,N&Y, o que acabou não ocorrendo, encerra a audição de hoje. Até o próximo sábado, com mais trilha do Urbanascidades.

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