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domingo, 25 de setembro de 2011

o passado das cidades


cidade, metropole, urbano
Lisboa: Chegada a Lisboa de Bernardino Machado Chefe de Estado Maior (1916)
As grandes cidades têm algo de fascinante. Não somente pela imponência da arquitetura ou miscelânea das ruas que misturam modernidade e tradição. Mas, especialmente, por causa de um passado em comum, um passado no qual sonhava-se com um futuro grandioso. Um futuro de cidades prósperas, pioneiras, possíveis, grandes.
Eu aprecio lugares calmos, quietos e rodeados de natureza. Qualquer pessoa é capaz de apreciar isto. Mas creio que não conseguiria viver uma vida absorta, apenas ouvindo os pássaros ou o vento golpeando as folhas das árvores. Deixo isto para as férias ou para algum momento de solidão necessária. A vida assim tão tranqüila parece-me um tanto romântica, um tanto saudável. Mas pouco provável que assim eu fosse feliz.
Eu preciso de movimento, de sons, de luzes, de faixas de pedestres. É isso. Sinto necessidade de ouvir as vozes das pessoas vendendo suas mercadorias, xingando umas às outras em um trânsito frenético, rindo em peças de teatro ou acenando para o taxista. Sinto necessidade do som dos trilhos do metrô, do cheiro das comidas dos mercados de rua, dos milhares de guarda-chuvas abertos na Avenida Paulista, do delivery do restaurante chinês. Dos metais, dos vidros, dos violinos de algum artista nas estações de trem. Um grande e desordenado côro desafinado das metrópoles. Bagunçado, imperfeito, humano, belíssimo.
Algumas pessoas simplesmente gostam disso tudo. Mas muito antes dessas cidades se transformarem nesse caos urbano, que hoje é nosso estranho refúgio, elas foram mais plácidas, mais cinzas, mais vazias. Pertenciam a um passado do qual os mais velhos e saudosistas tanto falam, do qual os mais novos e apreciadores tanto querem ouvir.
Foram aqueles pequenos e calmos vilarejos de ruas com charretes e meninos com estilingues. Aquelas ruas com estórias centenárias, emolduradas por cenas monocromáticas de um cotidiano tranquilo. Cenas que, hoje, só vemos em fotografias raras, as quais tentam acrescentar à nossa parca noção de como um dia foram os lugares que hoje estamos.
cidade, metropole, urbano
Lisboa: Praça D. Pedro IV (1920)
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Lisboa: Praça da Figueira (1885)

É claro que também existiam as grandes cidades que, na época, provocavam o mesmo efeito nas pessoas mais urbanas: fascinação. No entanto, é interessante olharmos o desenvolvimento dessas cidades que, de grandes, passaram a gigantescas e frenétcas mega-metrópoles.
Imagino que - mais do que ver o desenvolvimento das cidades em fotografias velhas - seja emocionante lembrar desse desenvolvimento. Alguns entre nós cresceram com as grandes cidades, acompanharam toda a trajetória.
Cidades que certamente àquela época eram tomadas por uma atmosfera de possibilidade, esperança e prosperidade. Cidades com pessoas que também tinham o ímpeto pela vida urbana, que optaram pelo choque violento de transformar suas pacatas ruas em avenidas tumultuosas. Talvez para que, quando oportuno, soubessem apreciar completa e verdadeiramente aqueles momentos longe disto tudo, aqueles momentos de calmaria anestésica que não vemos em nenhuma esquina dessas grandes cidades. E de que, às vezes, tanto necessitamos.
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São Paulo: Rio Tamanduatei
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São Paulo: Largo de São Bento
As grandes cidades podem ser tão inspiradoras quanto a natureza. Elas são, e sempre foram, o entusiasmo criador de alguns artistas, de muitos poetas. E carregam estórias, tradições, muros e memórias jamais abalados, jamais esquecidos.

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São Paulo: Largo São Francisco (1862)

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Nova Iorque: Quinta Avenida com a Rua 51ª (1913)
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Nova Iorque (1912)
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Detroit, Michigan Avenida Woodward (1917)
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Chiocago: Avenida Wabash (1907)
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Atlantic City, The Jersey Shore (1910)
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Washington D.C, Nineth Street (1915)
Veja os filmes do estúdio dos Lumiere que mostram algumas grandes cidades no início do século XX:





publicado originalmente por Rejane Borges em Obvius

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