Anoitece. No
silêncio do meu quarto torna-se impossível determinar em que horas
estamos. O tempo parece escorrer entre as golfadas do ar-condicionado
que, apesar dos esforços, não consegue aplacar o frio que percorre o meu
ser. Não lembro quanto dormi, quando comi, se fui ao banheiro, se
estamos em janeiro. A sonolência em que me encontro amortece meus
sentidos. Observando melhor, reconheço alguns objetos que não lembro
serem meus. Agora constato que onde repouso parece-me uma fria cama de
hospital, com seus cromados e comandos, alvejados lençóis, a
indefectível televisão, reproduzindo via satélite uma vida que não é
minha, não é sua nem de ninguém, passado e futuro, relações improváveis,
casamentos e traições, pérfidas pessoas, anjos angelicais, riquezas de
um pobre país podre, o poder e o amor, enfim, nada. À esquerda um senhor
barbudo pregado na parede pregado na cruz observa tudo com um olhar de
quem tudo entende. Sendo assim, explique-me o que faço aqui deitado, sem
poder movimentar-me.
CONTINUA NO URBANASVARIEDADES
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