Apesar de todas as vantagens associadas à posição de Paris relativamente ao Rio Sena, esta localização torna-a igualmente vulnerável aos caprichos da Natureza e do seu rio, tal como aconteceu em Janeiro de 1910.
O Rio Sena aparentemente calmo e controlado é responsável por inundações ocasionais nas suas margens, tornando Paris vulnerável à subida das suas águas. Não é à toa que uma das frases que caracteriza a cidade como lema é «Fluctuat nec Mergitur», que significa «flutua, mas não afunda».
De qualquer forma, nesse Inverno de 1910, Paris ficou parcialmente submersa deixando pairar a dúvida nos seus habitantes se iria eventualmente afundar, estando ainda presentes na memória coletiva dos parisienses as imagens desse acontecimento.
Em 1910, Paris era o centro da vida cultural e intelectual. A «Cidade das Luzes» usufruía de electricidade, telefone, novos túneis do Metro e saneamento, tornando a vida dos seus habitantes mais comoda e confortável. O nível de confiança no seu estatuto de cidade moderna e eficiente fez com que fossem ignorados os vários sinais e avisos de que estava eminente a subida das águas do Rio Sena.
Após o Verão bastante seco de 1909, seguiu-se um Inverno rigoroso, que se caracterizou por meses de chuva torrencial interminável. Entre os dias de 21 e 28 de Janeiro estas chuvadas culminaram com uma subida das águas do Sena de cerca de 7 metros, fato que não se registava há mais de 250 anos.
As águas do rio não se limitaram a transbordar as margens, infiltraram-se por túneis, esgotos e canalizações, submergindo ruas, praças, inundando caves e irrompendo pelos pisos térreos dos prédios.
O abastecimento de electricidade e gás foi interrompido e a «Cidade das Luzes» estava agora às escuras. Paris assemelhava-se a Veneza e aos seus canais percorridos por gondoleiros, uma vez que começavam a surgir pessoas que se movimentavam em pequenos barcos através da cidade inundada.
Os hospitais foram evacuados, foi providenciada comida. As obras-primas do Louvre foram protegidas, assim como postos a salvo os animais do Jardin des Plantes.
As principais consequências desta inundação foram a quantidade de desalojados, a violência de rua e assaltos que foram irrompendo, assim como a quantidade de ratos de esgoto mortos que flutuavam nas águas, aumentando o risco de epidemias.
As pessoas mudaram-se dos subúrbios para o centro, onde estavam concentrados esforços. Quando as águas do Sena começaram a retroceder, as ruas foram limpas da lama e as caves desinfetadas.
Apesar de tudo, esta situação pouco usual e a paisagem estranhamente bonita, chamou a atenção de fotógrafos, poetas e artistas de todo o mundo, cujas fotografias, desenhos e postais chegaram até aos dias de hoje como testemunhos da força e vontade indomáveis da natureza.
Neste ano de centenário, foram já organizadas diversas exposições alusivas ao acontecimento, assim como a publicação do livro «Paris under water» de Jeffrey H. Jackson, professor de história em Memphis, no qual o autor faz igualmente referência à solidariedade que pode ressaltar e unir os sobreviventes de uma catástrofe natural.
Cátia Fernandes viaja por locais, sonhos e projetos... pelos fatos da História, questões da ciência e pela beleza da arte.
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