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domingo, 19 de setembro de 2010

Revolução Farroupilha, capítulo 3

Cena de Batalha no Sul do Brasil, por Oscar Pereira da Silva.
Batalha do Fanfa
No dia 12 de setembro, um dia após à Proclamação da República Rio-Grandense, por Antônio de Sousa Neto, a seguir à vitória na Batalha do Seival, houve a solenidade de lavratura e assinatura da Ata de Declaração de Independência, pela qual os abaixo-assinantes declaram não embainhar suas espadas, e derramar todo o seu sangue, antes de retroceder de seus princípios políticos, proclamados na presente declaração. Fez-se várias cópias da Ata e foram enviadas às câmaras municipais e aos principais comandantes do Exército Republicano.
Como resposta imediata, as câmaras de Jaguarão, Alegrete, Cruz Alta, Piratini, entre outras, convocaram sessões extraordinárias onde puderam analisar e corroborar os feitos, fazendo constar em Atas Legislativas suas adesões, proclamando a independência política da Província, por ser a vontade geral da maioria.
Bento Gonçalves não pudera estar presente devido a um fato circunstancial. Ao tomar conhecimento do ato da Proclamação da República Riograndense, Bento Gonçalves levanta seu acampamento na lomba do Tarumã, parte do sítio que impingia a Porto Alegre, segue a várzea do Rio Gravataí, marcha para São Leopoldo e cruza o rio dos Sinos e o rio Caí, passa a deslocar-se, beirando o Rio Jacuí, para junção de forças com Neto. Fatalmente ele precisava atravessar o rio na Ilha de Fanfa, no município de Triunfo por causa da época de cheias. Ciente dos acontecimentos, Bento Manuel agora a serviço do Império, desloca suas tropas com 660 homens embarcados, a partir de Triunfo, de modo a impedir a passagem de Bento Gonçalves.
Bento Gonçalves decide cruzar o rio Jacuí, para unir suas tropas com as de Domingos Crescêncio, e na noite de 1° de outubro levanta acampamento e na manhã seguinte inicia, com dois pontões para 40 homens, o cruzamento para a Ilha do Fanfa. José de Araújo Ribeiro, alertado por Bento Manuel , envia a Marinha, comandada por John Grenfell no vapor Liberal, junto com 18 barcos de guerra, escunas e canhoneiras guardando o lado sul da Ilha, só percebida pelos Farrapos depois de estarem na ilha. Fechando o cerco por terra, Bento Manuel ficou senhor da situação. Era 3 de outubro de 1836.
Os farrapos resistem por três dias, sabedores da proximidade das tropas de Crescêncio de Carvalho, repelem os fuzileiros que desembarcam na ilha pela costa sul e qualquer tentativa de travessia pelo norte. A fim de evitar mais derramamento de sangue, Bento Manuel levanta a bandeira de “parlamento”. Bento Gonçalves aceita negociar. O acordo foi feito e assinado em 4 de outubro. Os Farrapos entregariam as armas, capitulariam, e voltariam livres para suas casas. Segundo Bento Manuel a guerra estaria terminada, com a vitória do Império. Ele pacificara a Província, e receberia as glórias da Corte. Porém, Bento Gonçalves não era tão ingênuo e já havia enviado um mensageiro solicitando socorro a Neto e Canabarro.
Depois de desarmar e soltar os soldados, Bento Manuel mantém os chefes presos: Bento Gonçalves, Tito Lívio, José de Almeida Corte Real, José Calvet, Onofre Pires, entre outros; sob o pretexto que Bento Gonçalves havia faltado com sua palavra ao enviar emissários buscando socorro. A maior parte dos líderes do movimento foi preso na Presiganga, depois enviada à Corte e por fim encarcerada na prisão de Santa Cruz e no Forte da Laje, no Rio de Janeiro.
A Guerra sem Bento
Na sessão extraordinária da Câmara de Piratini, na primeira capital da República Rio-Grandense, em 6 de novembro de 1836, procedeu-se formalmente a votação para Presidente da República, conforme os parâmetros da época. A eleição foi vencida por Bento Gonçalves (mesmo sem estar presente e sem campanha) e primeiro vice-presidente José Gomes de Vasconcelos Jardim. Assume o vice interinamente a presidência, nomeia o ministério e toma a incumbência de convocar uma Assembleia Constituinte para formar a Constituição da República Rio-grandense.
A luta entre Farroupilhas e Imperiais continuou acirrada. O Império despejava rios de dinheiro para recrutar mais e mais soldados paulistas e baianos, para comprar mais armas, mais munições, com pouquíssimo resultado prático.
Pelo lado imperial, Araújo Ribeiro foi substituído a 5 de janeiro de 1837 pelo brigadeiro Antero de Brito, acirrando mais a disputa. Bento Manuel não gostou da demissão de seu parente e amigo. Enviou uma carta a Antero de Brito, dizendo-se doente e solicitando que portanto fosse substituído no comando das armas, além disso dispensou boa parte da tropa que comandava.
Brito passou a acumular os cargos de Comandante das Armas e de Presidente da Província de São Pedro do Rio Grande com capital em Porto Alegre. Se Araújo era, acima de tudo, conciliador, Brito perseguiu e prendeu até mesmo civis simpatizantes das ideias farroupilhas, confiscando seus bens ; alguns destes foram punidos com a pena de desterro. Em contrapartida os Farrapos eram senhores do pampa, recebiam maciças adesões de militares descontentes com a nomeação de Brito, e ainda em janeiro de 1837, ganham o apoio dos habitantes de Lages de Santa Catarina, que seria um importante ponto onde os Farrapos comprariam armas e munições. O principal perseguido por Antero de Brito era o Comandande das Armas Imperiais anterior a ele, nada menos que Bento Manuel Ribeiro.
Bento Manuel não aceitava a auto-nomeação de Brito, e continuava a dar suas próprias ordens às tropas. Brito, então, sai pessoalmente ao seu encalço. Bento foge mudando de direção, como numa brincadeira de gato e rato. Situação que se arrasta até o dia 23 de Março de 1837 quando, num golpe de mestre, Bento Manuel Ribeiro deixa um piquete para trás, sob o comando do major Demétrio Ribeiro que, de surpresa, cai sobre as tropas de Brito e prende o Presidente Imperial da Província. Com isso novamente Bento Manuel é aceito no seio farrapo, passando a combater novamente os imperiais.
Em 8 de abril o general Neto conquista Caçapava do Sul, centro de reabastecimento imperial, depois de sete dias de cerco, apreendendo 15 canhões e fazendo prisioneiros a 540 imperiais, comandados pelo coronel João Crisóstomo da Silva. Ainda neste ano, em 2 de julho, acontece o Combate de Ivaí, onde Bento Manuel é capturado, mas após um ataque farroupilha 50 legalistas são mortos, enquanto o marechal Sebastião Barreto Pereira Pinto foge para Caçapava do Sul, deixando Bento Manuel ferido e desacordado no campo.
A sustentação econômica da República era propiciada pelo apoio da vizinha República Oriental do Uruguai, que permitia o comércio do charque produzido pelos rio-grandenses para o próprio Brasil. A exportação era feita por terra até o Porto de Montevidéu, ou pelo rio Uruguai. Em 29 de agosto é assassinado o coronel João Manuel de Lima e Silva, que havia derrotado Bento Manoel Ribeiro Imperial, no ano anterior.
Gonçalves assume a presidência
Retrato de Bento Gonçalves, século XIX. Acervo do Museu Júlio de Castilhos
Em 15 de março de 1837 Bento Gonçalves tentou escapar da prisão, no Rio de Janeiro, junto de outros companheiros. Porém Pedro Boticário não conseguiu passar por uma janela, por ser muito gordo, em solidariedade Bento Gonçalves desistiu da fuga, na qual escaparam Onofre Pires e o coronel Corte Real. Depois desta tentativa de fuga foi transferido para a Bahia onde chegou em 26 de agosto de 1837, ficando preso no Forte do Mar. Conseguiu, com auxílio da Maçonaria, evadir-se da prisão baiana em 10 de setembro de 1837, poucos dias antes do início da Sabinada. Permaneceu algum tempo, clandestino, em Itaparica e Salvador, onde teve contato com membros do movimento. Depois de despistar seus perseguidores que achavam que tinha partido para os Estados Unidos em uma corveta, Chegou, via Buenos Aires, de volta ao Rio Grande do Sul e em 16 de dezembro de 1837, tomou posse como Presidente da República. Nesta época os farrapos dominavam praticamente toda a província, ficando os imperiais restritos a Rio Grande e São José do Norte.
A 29 de agosto de 1838 Bento lança seu mais importante manifesto aos rio-grandenses, onde justifica as irreversíveis decisões tomadas em favor da libertação do seu povo:
“ Toma na extensa escala dos estados soberanos o lugar que lhe compete pela suficiência de seus recursos, civilização e naturais riquezas que lhe asseguram o exercício pleno e inteiro de sua independência, eminente soberania e domínio, sem sujeição ou sacrifício da mais pequena parte desta mesma independência ou soberania a outra nação, governo ou potência estranha qualquer.Faz neste momento o que fizeram tantos outros povos por iguais motivos, em circunstâncias idênticas. ”
E no trecho final, um juramento importante:
“ Bem penetrados da justiça de sua santa causa, confiando primeiro que tudo, no favor do juiz supremo das nações, eles têm jurado por esse mesmo supremo juiz, por sua honra, por tudo que lhes é mais caro, não aceitar do governo do Brasil uma paz ignominiosa que possa desmentir a sua soberania e independência. ”
Estas palavras têm reflexo mais tarde, quando da assinatura do Tratado de Poncho Verde.
Queda da "Tranqueira Invicta"
Com a dificuldade em quebrar a resistência de Porto Alegre, os farroupilhas resolvem voltar-se contra Rio Pardo, onde estava concentrada uma divisão do exército imperial, com dois batalhões de infantaria e dois corpos de cavalaria, comandada pelo marechal Sebastião Barreto Pereira Pinto. Os brigadeiros Francisco Xavier da Cunha comandando a infantaria e Bonifácio Calderón a cavalaria, num total de 1200 combatentes. A cidade era junto com Porto Alegre e Rio Grande, uma das mais importantes do estado, contando com quase o dobro de habitantes da capital.
A concentração de tropas imperiais chamou a atenção dos farroupilhas, conscientes das possíveis consequências desta tropa quando se movimentasse. Bento Manuel Ribeiro, ao lado de Antônio de Sousa Neto, em 30 de Abril de 1838, comandando 2500 homens, 800 deles de cavalaria, surpreendem a cidade, na batalha do Barro Vermelho, na entrada da cidade, derrotarando os imperiais, conquistando Rio Pardo, a ex-tranqueira invicta, matando 71 homens e fazendo mais de 130 prisioneiros.
Este fato foi importante por vários aspectos, dando novo impulso à rebelião. Rio Pardo formava, com Rio Grande e Porto Alegre, a fronteira de domínio imperial, um ponto de apoio para a conquista do interior, tinha fama de inexpugnável, e a vitória farrapa foi incontestável. Além disso Rio Pardo tinha quase o dobro de habitantes de Porto Alegre.
A conquista de Rio Pardo foi importante também porque em Rio Pardo se encontrava, na ocasião, a Banda Imperial, sob o comando do maestro mineiro Joaquim José Mendanha, que viria a compor, sob a encomenda de Bento Gonçalves, o Hino Nacional da República Rio-Grandense. Com a letra do republicano Serafim Joaquim de Alencastre, o hino foi executado e cantado pela primeira vez na cerimônia de comemoração do primeiro aniversário da Tomada de Rio Pardo. Hoje a música do hino é a mesma, mas foi composta outra letra, por Francisco Pinto da Fontoura, o Chiquinho da Vovó, para se adequar aos novos tempos.
Cabe ressaltar que a primeira composição do Hino Nacional da República Riograndense destacava a mesma ideia dos discursos de Bento Gonçalves, de não ceder à paz vergonhosa da deposição das armas:
“ Nobre povo rio-grandense. Povo de heróis, povo bravo!
Conquistaste a independência. Nunca mais serás escravo.”
Marinha Farroupilha
Garibaldi
A Marinha Imperial Brasileira controlava os principais meios de comunicação da Província, a Lagoa dos Patos, entre Porto Alegre, Pelotas e Rio Grande e a maior parte dos rios navegáveis. Apesar disso era constantemente atacada pelos farroupilhas, quando próximos aos barrancos dos rios. Em 1° de fevereiro de 1838, uma tropa de dois mil farrapos e uma bateria de artilharia conseguiram atacar de surpresa duas canhoeiras e um lanchão no rio Caí, matando quase todos os marinheiros e aprisionando um dos comandantes.
O fator estratégico de maior efeito a favor do Império era o bloqueio da barra da Lagoa dos Patos, único acesso ao porto de Rio Grande, por onde desembarcavam continuamente os reforços imperiais, e ao mar. A República, na segunda parte do confronto procurava manter a supremacia conquistada na região geográfica da serra do sudeste do Rio Grande do Sul, de relevo irregular e com apenas um rio que comunicava com a Lagoa dos Patos, o Camaquã.
Foi preciso engendrar uma manobra incomum para conquistar um ponto que pudesse ligar o Rio Grande dos farrapos com o mar. Este ponto era Laguna, em Santa Catarina. O primeiro passo era constituir a Marinha Rio-Grandense. Giuseppe Garibaldi conhecera Bento Gonçalves ainda em sua prisão, no Rio de Janeiro, e obteria dele uma carta de corso para aprisionar embarcações imperiais. Em 1 de setembro de 1838, Garibaldi é nomeado capitão-tenente, comandante da marinha Farroupilha.
Foi criado um estaleiro, junto a uma fábrica de armas e munições em Camaquã, na estância de Ana Gonçalves, irmã de Bento Gonçalves. Lá Garibaldi coordena a construção e o armamento de dois lanchões de guerra. Ao mesmo tempo Luigi Rossetti vai a Montevidéu, buscar a ajuda de Luigi Carniglia e outros profissionais indispensáveis. Após algumas semanas, estava completa a equipagem de mestres e operários. Alguns marinheiros vieram de Montevidéu e outros foram recrutados pelas redondezas.
Os imperiais, informados dos planos farrapos, atacaram o estaleiro de Camaquã, comandados por Francisco Pedro de Abreu, o Chico Pedro, também conhecido por Moringue. Eram mais de uma centena de homens, cercando o galpão com 14 trabalhadores entrincheirados. Giuseppe Garibaldi, comanda a resitência durante horas. Quase ao anoitecer, Moringue precipita-se do esconderijo e leva um tiro no peito. Seus companheiros o recolhem e fogem tão rapidamente quanto chegaram.
Garibaldi liderando a expedição à Laguna (Lucílio de Albuquerque).
Terminada a construção dos barcos e lançados à água, os lanchões Seival e Farroupilha, cortando as águas da Lagoa dos Patos, acuados pela armada de John Grenfell, não têm muito sucesso: capturam alguns barcos de comércio desprevenidos, em lagoas ou rios longe da armada imperial. [20] Surge, então, o plano de levar os barcos pela Lagoa dos Patos até o Rio Capivari, e dali, por terra, sobre rodados especialmente construídos para isso, até a barra do Tramandaí, onde os barcos tomariam o mar. Assim foi feito, mas não sem dificuldades.
O Seival
Os Farrapos despistando a armada imperial conseguem enveredar pelo estreito do rio Capivari e passam os barcos a terra, em 5 de julho de 1839. Puxando sobre rodados, os dois lanchões artilhados, com cem juntas de bois, atravessam ásperos caminhos, pelos campos úmidos - em alguns trechos completamente submersos, pois era inverno, tempo feio com chuvas e ventos, tornando o chão um grande lodaçal. Cada barco tinha dois eixos e, naturalmente, quatro rodas imensas, revestidas de couro cru. Piquetes corriam os campos entulhando atoleiros, enquanto outros, cuidavam da boiada.
Almirante da Marinha Imperial Frederico Mariath
Levaram seis dias até a Lagoa Tomás José, vencendo 90 km e chegando a 11 de julho. No dia 13, seguem da Lagoa Tomás José à Barra do Rio Tramandaí, sob o Oceano Atlântico, e, no dia 15, lançam-se ao mar com sua tripulação mista de 70 homens. O Seival, de 12 toneladas, era comandado pelo norte-americano John Griggs, conhecido como "João Grandão", e o Farroupilha, de 18 toneladas, comandado por Garibaldi - ambos armados com quatro canhões de doze polegadas, de molde "escuna". Por fim, a 14 de julho de 1839 os lanchões rumavam à Laguna para atacar a província vizinha. Na costa de Santa Catarina, próximo ao rio Araranguá, uma tempestade põem a pique o Farroupilha, salvando-se milagrosamente uns poucos farrapos, entre eles o próprio Garibaldi.
Enquanto isto, Grenfell continuava a caça à marinha farroupilha. Com o vapor Águia e diversas canhoeiras e lanchões ataca a base de Camaquã e apreende três lanchões e duas lanchas; mas era tarde, ali teve a notícia que Garibaldi já estava longe, a caminho de Laguna.
A República Juliana
Davi Canabarro, presidente da República Juliana (1839).
Com a chegada da marinha farroupilha a Santa Catarina, unindo-se às tropas do exército, sob o comando geral de David Canabarro, foi possível preparar o ataque à Laguna por terra e pela água. A marinha farroupilha, entrou através da Lagoa de Garopaba do Sul, passando pelo rio Tubarão e atacou Laguna por trás, surpreendendo os imperiais que esperavam um ataque de Garibaldi pela barra de Laguna e não pela lagoa'. Garibaldi toma um brigue e dois lanchões, enquanto somente o brigue-escuna Cometa consegue escapar para o mar.
Bandeira da República Juliana
Laguna é tomada, com ajuda do próprio povo lagunense, a 22 de julho de 1839. A 29 deste mês proclama-se a República Juliana, feito um país independente, ligada à República Rio-Grandense pelos laços do confederalismo.
Após conquistar Laguna as forças farroupilhas continuaram rumo ao norte, perseguindo as tropas imperiais, avançando cerca de 70 km até a planície do rio Maciambu. O avanço foi contido devido a um entrincheiramento das forças imperiais, protegido pela geografia do Morro dos Cavalos, que dificultava o acesso das tropas farrapas e lhes bloqueava o avanço para o ataque à Desterro, hoje Florianópolis.
Com a tomada de Laguna praticamente metade da província catarinense ficou em mãos republicanas. A incorporação da vila de Lages, também sob controle rebelde, ao novo estado, levou o território da República Juliana a se estender do extremo meridional até o planalto catarinense. Foi então a organizada a República Juliana, sendo convocadas eleições para constituição do governo. Canabarro ficou à frente do governo da nova república até 7 de agosto de 1839, quando foi convocado o colégio eleitoral. Foram eleitos para presidente o tenente-coronel Joaquim Xavier Neves e para vice o padre Vicente Ferreira dos Santos Cordeiro, como Xavier Neves estava em São José bloqueado pelas pelas forças imperiais, o padre Vicente Cordeiro assumiu a presidência.
Os farroupilhas ainda fizeram incursões navais mais ao norte, chegando a atacar a barra de Paranaguá, em 31 de outubro de 1839. Uma escuna e um lanchão farroupilhas capturaram a sumaca Dona Elvira, porém foram combatidos pelos canhões da fortaleza e obrigados a retroceder. A escuna recuou rumo ao norte, porém o lanchão, mais pesado, por ali parou e foi capturado por uma lancha com vinte homens comandada pelo alferes Manuel Antônio Dias e a lancha Dona Elvira foi recuperada.
Retrato de Anita Garibaldi (1839).
O império impôs um bloqueio naval, que buscava estrangular a república economicamente. Garibaldi ainda consegue furar o bloqueio com três barcos, captura dois navios de comércio, troca tiros com o brigue-escuna Andorinha e toma o porto de Imbituba. Alguns dias mais tarde retorna a Laguna, em 5 de novembro.
Pouco tempo depois o império reage com força total, comandados pelo General Andréa, comandante de armas de Santa Catarina, mais de três mil homens atacam por terra. Enquanto isto por mar, o Almirante Imperial Frederico Mariath, com uma frota de 13 navios, melhor equipados e experientes, inicia a batalha naval de Laguna. Garibaldi fundeia convenientemente seus cinco navios, que se batem contra os imperiais valentemente, mas sem chances de vitória. Nos navios farroupilhas nenhum comandante ou oficial escapa com vida. O próprio Garibaldi, vendo a derrota iminente, queima seu navio, a escuna Libertadora, e se junta à tropa de Canabarro, que prepara a retirada de Laguna[6], é o fim da marinha farroupilha.
Os imperiais retomam Laguna a 15 de Novembro de 1839. Garibaldi foge com Ana, que tornar-se-ia conhecida como Anita Garibaldi,uma mulher lagunense casada, cujo esposo alistara-se no exército imperial, abandonando-a, um escândalo para a época. Anita veio a ser sua companheira de todos os momentos, lutando lado-a-lado com Garibaldi seja nos pampas gaúchos, como na Itália, onde é considerada heroína.
Os campos de LagesEm 9 de março de 1838 os farroupilhas invadiram Lages, anexando a vila à República Rio-Grandense, com o apoio de alguns fazendeiros locais, fato que havia causado grande júbilo entre os revolucionários: era a primeira conquista farrapa fora do Rio Grande do Sul.
Depois das queda de Laguna as tropas farrapas, tomaram o caminho de Lages para retornar ao Rio Grande do Sul. Enquanto isso o governo imperial havia decidido enviar um contingente de tropas ao sul pelo interior com a missão de retomar Lages e depois auxiliar contra o cerco de Porto Alegre pelos farrapos. Em Rio Negro reuniram-se 1500 homens, vindos do Rio de Janeiro, Curitiba, Paranaguá, Antonina e Campo do Tenente, deslocando-se para Santa Cecília, onde acamparam em 25 de outubro de 1839.
Travando pequenos combates com piquetes farroupilhas em novembro, através dos Campos dos Curitibanos e Campos Novos, chegaram a Lages, onde retomaram a vila. Dali uma parte da coluna do brigadeiro Francisco Xavier da Cunha decidiu seguir em direção ao Rio Pelotas, para invadir o Rio Grande do Sul.
Os farrapos, derrotados em Lajes, se reuniram em um entreposto alfandegário, para cobrança de impostos sobre as tropas de gado e mulas que vinham de Viamão e seguiam para Sorocaba, conhecido como Santa Vitória.
O brigadeiro Francisco Xavier da Cunha, foi informado e para lá dirigiu-se, com seus dois mil homens. Foi surpreendido, em 14 de dezembro de 1839, por Teixeira Nunes, que com sua cavalaria, conseguiu dividir a tropa legalista e o fez retroceder. Em um renhido combate as tropas legalistas foram derrotadas. O brigadeiro ferido e protegido por alguns oficiais, tentou escapar e ao cruzar o Rio Pelotas, morreu afogado.
Os farroupilhas retomaram Lajes novamente, mas as tropas legalistas foram reforçadas por uma divisão vinda de Cruz Alta, sob o comando do coronel Antônio de Melo Albuquerque, o "Melo Manso".
Garibaldi e Teixeira Nunes, pressentido um ataque, dividiram suas tropas, uma partiu para o norte, onde perto do Rio Marombas encontrou uma tropa legalista superior em 12 de janeiro de 1840. Os republicanos foram dizimados, dos 500 iniciais, menos de 50 conseguiram retornar a Lajes e depois voltar ao Rio Grande do Sul.

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