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domingo, 27 de março de 2011

Cinemas de Rua

 





Réu confesso,assumo minha caretice, gostava mesmo dos "cinemas de rua". Perdoem-me os entusiastas da facilidade de estacionamento, da segurança, das salas de projeção com padrão de limpeza similares às CTIs de hospitais particulares (públicos não incluídos), do som estereofônico sounround, da imagem 3 ou 4 D, full HD ou o que isso queira dizer, das dezenas de salas com a mesma programação, do Buffet executivo na bomboneire, dos inúmeros lembretes do que pode ou não ser feito, ditando regras de comportamento para a convivência politicamente correta. Eu troco todo o “combo” acima por uma boa e velha sala de cinema “das antigas”.
A minha primeira lembrança transporta-me para o bairro São Geraldo, em Porto Alegre, antiga avenida Eduardo, pomposamente alcunhada de Presidente Franklin Delano Roosevelt. O cinema era o “Talia” (à esquerda), onde os espectadores miravam com um olho a tela e, com o outro, controlavam a população de pulgas e outros insetos.
Mudei-me, aos sete anos, para a avenida Cristóvão Colombo, no Bairro Floresta. Aumentou o meu leque de opções, e dividia os vesperais de domingo entre o Cine Colombo, o Astor (abaixo), o Presidente (à direita). Era uma época de Festivais de desenhos (Tom e Jerry, Picapau e outros) e sessões duplas de filmes épicos e bang-bang.
Visitar meus avós no final de semana no bairro Cristo Redentor inevitavelmente incluiria sessões de filmes do cantor Teixeirinha e do Mazaropi (o cômico, não o goleiro), com a minha bisavó e sua matilha de netos e bisnetos no Cine Real, onde a guerra de azedinhas (balas) e o bater de pés no estrado de madeira eram obrigatórios, criando a trilha sonora para a ação do filme.
A história do cinema muda radicalmente quando duas mudanças fundamentais ocorrem na tua vida: carro e namorada (quem “nasceu” primeiro? Qual é a ordem?). Depois de analisar cuidadosamente a programação no jornal, escolhido o filme, combinado o horário de buscar a “gata” na casa dos pais, lavar e dar um trato na “caranga”, ouvir um longo discurso de recomendações do pai da “guria”, esforçando-se para produzir a melhor “cara de santo” possível, inicia o passeio. Com pelo menos uma mão no volante, torcendo para que todas as sinaleiras no trajeto fiquem vermelhas (hora do beijo, que só é interrompido pela buzina estridente dos outros veículos).
Chegando ao cinema, uma volta de aproximação para avaliar o tamanho da fila. Em relação a esta, existiam duas, ma de comprar os ingressos e a outra que permitia o acesso a sala de cinema. A primeira atitude ao se aproximar era questionar o ocupante da frente sobre o objetivo de cada uma. Se a fila estivesse muito grande, o truque era deixar a namorada na calçada, enquanto procurava algum local para estacionar nas proximidades. A disputa por vagas era intensa, mas os “flanelinhas” eram simpáticos e não “mordiam”.
Morador do bairro Moinhos de Vento, os meus cinemas preferidos pela proximidade e qualidade das salas e da programação eram o cine Coral (abaixo, à direita), o Cinema 1 - sala Vogue (à esquerda), o Astor, Baltimore (no início da postagem, à direita), Avenida (no início da postagem, à esquerda).
Bom era quando encontrávamos, em situação mais privilegiada, algum conhecido e ficávamos conversando, torcendo para que os protestos dos circundantes não fossem muito intensos.
O que fazíamos depois do “the end”? Dependendo da época da vida, da companhia e da “grana”, as opções eram variadas, desde um milkshake no “Rib’s” ou no “Joe’s” na praça Júlio de Castilhos, kit chope/batata frita/molho remolado no “Pedrinho”, iscas de camarão e queijo provolone a milanesa com bandas de jazz ao vivo no sala “Tom Jobim”, uma “Califórnia com vinho branco na “Pizzatime”, suar a camiseta dançando no “Maria Fumaça” ou no Encouraçado, bandeja de petiscos e drinks especiais nos sofás curvos do pub “New Orleans”, ou visitar o “chef” Pérsio no “Picanha na Tabua”, entre outros maravilhosos locais de Porto Alegre na década de 80.
E, para os que vivenciaram esta época maravilhosa em nossa cidade, não posso deixar de incluir uma esticada ao estacionamento do Parcão.

Foto da inauguração do antigo cine-teatro Guarani

2 comentários:

  1. mande isto que me interessa. tens pesquisa de cinemas de rua...tem um livro sobre isto né???

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  2. Bons tempos!!!Cinema de calçada era mais democrático,havia um público mais heterogêneo nas salas de projeção. Cinema de shopping são...Cinemas de shopping. Acho que a extinção dos cinemas de bairro coincide com o início de uma época onde a invenção dos irmãos Lumière perde muito do seu charme. Os filmes blockbuster tomam conta, o saquinho de pipoca de outrora vira um copo gigante incluído em algum combo engordante, há muito Surround e pouca sinfonia; muitos rostos e pouca expressão; muita 'onda' e pouca interpretação. O cartão de crédito "comprou" o cinema. Quando uma professora que tive na Famecos falou em aula que gostava de ir no cinema da CCMQ, pois ali não tinha gente comendo um balde pipoca e aqueles combos north-americans, vi vários colegas a reprovando. Os mesmo que provavelmente me acharam um louco por falar que gostava dos filmes da nouvelle vague. Pra que Godard se eles têm o POP TARANTINO?

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