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sábado, 10 de abril de 2010

Diário de bordo 1500 - Os preparativos

Iniciamos hoje uma série especial sobre a mais nova aventura de nosso amado rei, D. Manoel, após a fracassada aventura do navegador Vasco da Gama que, em julho do ano passado retornou a Portugal. O único saldo positivo de seu desastre diplomático nas Índias foi o fato de ter descoberto que estas poderiam ser alcançadas através do mar Tenebroso. Em vista disso, o nosso rei mandou preparar nova expedição para as Índias. Segundo nossos repórteres, esta nova expedição partirá do Tejo com 13 embarcações abarrotadas de tesouros para estabelecer o entreposto, e canhões, pólvora e armamentos no caso de os argumentos comerciais não serem suficientes. Segundo pudemos levantar, este intercâmbio se dará nos portos de Cacecute, Cananor e Sofola. A tripulação é composta de aproximadamente mil e quinhentos homens, entre marujos, soldados, degredados, astrônomos, grumetes, capitães de sangue nobre, pilotos e escrivães. Uma fonte confidenciou aos nossos repórteres que a maior parte da tripulação é composta de jovens de quinze ou dezesseis anos de idade. Denúncias repassadas por nossos correspondentes no interior do país informam que grande parte dos tripulantes foi recrutada forçadamente em nossas aldeias, e que não possuem nenhuma experiência em navegação. Fontes oficiais negaram a informação com veemência, mas não apresentaram provas em contrário.
Nossa cobertura contará com correspondentes em todos locais por onde a expedição passar, além de reportagens especiais com representantes do governo e das universidades, debates com especialistas das mais diferentes áreas, e comentários de nossos convidados especiais. Também estaremos apresentando o perfil dos principais envolvidos na expedição. E, para não perdermos um detalhe desta aventura, estaremos recebendo mensagens de nosso enviado especial, que estará transmitindo diretamente de uma das caravelas, com as notícias em primeira mão. Prosseguimos com nossa programação, e retornaremos a qualquer momento com novas informações.
−Voltamos a falar do que está sendo chamado de “A Conquista das Índias”. Estamos com um convidado para comentar os últimos acontecimentos.
“Boa tarde. Inicialmente gostaria de colocar alguns questionamentos que estão afligindo nosso povo. É realmente necessária esta viajem? Qual é o custo desta aventura? Quem vai pagar por estes descalabros? O que há de tão importante nesta expedição para justificar este aparato? As outras empreitadas costumam utilizar três embarcações e aproximadamente cento e cinqüenta homens. O que motivou nossos governantes a um investimento tão grande? As respostas, vamos procurá-las onde estiverem. Obrigado.
−Denúncia! Recebemos informação de fonte confiável do palácio que está sendo escolhido para comandar esta grandiosa expedição um beócio, que nunca até o momento colocou os pés no casco de uma embarcação. Se tal disparate realmente acontecer, estamos diante de um escândalo sem precedentes. De qualquer forma, as reuniões do alto escalão ocorrem diariamente, estabelecendo as estratégias e logística da viajem. Com a participação de Vasco da Gama e outros navegadores experientes, a equipe está definindo a rota, a quantidade de provisões, o tempo de duração da expedição, as paradas e, principalmente, os códigos de comunicação. Em um esforço de nossa reportagem, estamos adiantando em primeira mão que os canhões serão utilizados para as mudanças de curso e velocidade, disparando duas salvas de balas, e aguardando resposta das outras embarcações.
−Aproxima-se a data de partida. Podemos adiantar que será no início do mês de março do corrente ano. A viajem será precedida por uma missa no Mosteiro de Belém, presidida pelo Bispo de Ceuta, Dom Diogo de Ortiz e a qual compareceu o rei e toda a Corte quando, segundo o protocolo oficial, será entregue ao comandante uma bandeira benzida com as armas do Reino. Os preparativos finais estão sendo ultimados, e em visita ao local onde as embarcações aguardam a partida, constatamos que a frota é composta por dez naus e três caravelas, dando-se como certa a participação de alguns dos mais experientes capitães e navegadores, como Bartolomeu Dias, Afonso Lopes, Sancho de Tovar, Simão de Miranda e Nicolau Coelho, entre outros.
−Confirmada a nossa denúncia. O comandante da expedição será o alcaide-mor de Belmonte Pedro Álvares Cabral. Segundo alguns descontentes navegadores, a escolha do sisudo chefe militar como capitão-mor da esquadra estaria relacionada com o casamento deste com Dona Isabel de Castro, uma das mulheres mais ricas de nosso país. Pedro Álvares Cabral, nascido na Beira Alta, em 1467 ou 1468, terceiro filho de Fernão Cabral, governador da Beira e alcaide-mor de Belmonte, e de Isabel de Gouveia de Queirós. Inicialmente, chamado de Pedro Álvares de Gouveia, com a morte do irmão primogênito passou a usar o Cabral. Mudou-se para o Seixal, e em Lisboa estudou Literatura, História, Ciência, e artes militares. Ao entrar na Corte de D. João II como moço fidalgo, aperfeiçoou-se em Cosmografia e Marinharia. Com a ascensão de D. Manoel I, foi promovido a fidalgo do Conselho do rei, recebendo o hábito de cavaleiro da ordem de Cristo, com direito a pensão anual em dinheiro.
Estamos aqui entrevistando um especialista em náutica da universidade de Lisboa. − Professor, o que o Sr. acha desta nova aventura do nosso rei?
− Bem, inicialmente gostaria de agradecer o convite. Historicamente, até o século XV, a nossa marinha praticava uma navegação de cabotagem e de pesca, utilizando barcas, pequenos navios de madeira, com uma só coberta e um só mastro, podendo ou não levar cesto de gávea. A vela era quadrada e se abria suspensa em uma verga colocada sobre o mastro. Quando enfunava com o vento, ficava arredondada como um balão, sendo utilizada para pequenas vagens. Além da barca, utilizou-se muito o barinel, e ambos eram embarcações pequenas e frágeis, que não suportavam as dificuldades como baixios, ventos fortes e correntes marítimas desfavoráveis que ocorriam no avanço para o sul. Com a evolução técnica e graças as muitas viagens de exploração da costa atlântica africana, desenvolveu-se uma embarcação de fácil navegação e melhor capacidade de bordejar, a caravela. Construída em carvalho, de porte médio e velas triangulares, com três mastros, um único convés e ponte sobrelevada na popa, deslocando 50 toneladas, com no máximo 30 metros de altura e largura, com tripulação mínima de 40 homens e 4 tripulantes, podendo ser movida a remo, em caso de necessidade. Com ventos mais calmos tornava-se lenta, e com a necessidade de tripulações maiores, mais capacidade de carga e armamentos, tornou-se necessário substituí-la por navios mais potentes, as naus. Barco de grande porte destinado a longos percursos, com capacidade de até 200 toneladas, com castelos de proa e popa, dois, três ou quatro mastros, com duas ou três ordens de velas sobrepostas, imponentes e de armação arredondada, Possuem velas latinas no mastro da ré e, em geral, duas cobertas. As naus são classificadas conforme o poder de artilharia: quando possuem de 100 a 120 bocas de fogo chamam-se de naus de três pontas, e naus de duas pontas e meia quando são 80 as bocas de fogo.
−Obrigado, professor pela elucidativa dissertação sobre a evolução náutica da nação portuguesa. E a respeito dos instrumentos de navegação, o que o Senhor teria a nos contar?
−Como outros europeus, os nossos instrumentos básicos de navegação astronômica são os árabes, como o astrolábio e o quadrante, que seria um quarto de astrolábio munido de um fio de prumo, além da balestilha, invenção lusa, que obtém no mar a altura do sol e de outros astros. As tábuas astronômicas, tabelas que indicam a inclinação do Sol, e outras tabelas que contem correções ao cálculo da latitude através da Estrela Polar. Aproveitando os conhecimentos acumulados pelos “Libros Del Saber de Astronomia”, do Regimento do Sol, a experiência dos pilotos, o inovador Regimento da estrela do Norte desenvolveu e sedimentou a ciência náutica portuguesa, e deu origem ao “Regimento das Léguas”, que permite calcular a quantidade de léguas navegadas entre dois paralelos, além da contribuição oferecida pelos catálogos das declinações de estrelas e outras normas praticas.
−Muito obrigado, professor, pela aula de ciência náutica. Até uma próxima oportunidade.
−Para assinalar as reportagens especiais do nosso enviado especial a bordo da expedição criamos uma característica especial, que será apresentada agora, junto com o relato da partida das embarcações no dia de hoje.
“O mar – a fronteira final. Estas são as viagens da nau espacial ‘NINAPINTASANTAMARIA’ em sua missão de cinco anos de explorar novos mundos, novas civilizações, corajosamente indo onde o homem jamais esteve”.
Acompanhe a continuação no próximo domingo!

Um comentário:

  1. Solicito a gentiliza de me informar como posso conseguir o Diário de Bordo completo da viagem de Descobrimento do Brasil, pois neste site só tem algumas partes. Comecei a ler e me interessei.
    Favor enviar resposta para: andreabvmaia@hotmail.com
    Grata,
    Andrea

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