Miguel Torga.
A literatura e a poesia, principalmente esta última, foram das poucas artes que evoluíram durante a ditadura, através de um recôndido movimento ao qual hoje se dá o nome de Poesia de intervenção. Não tendo liberdade de expressão, os escritores e poetas tiveram que construir novas e originais formas de fazer literatura ou poesia. De forma retundante, os autores abordavam temas proibidos e «ameaçados» pelo célebre lápis-azul, concedendo ao século XX um dos mais marcantes movimentos contemporâneos: a Poesia de intervenção.
Oficialmente, ainda não é tido, mesmo assim, como um movimento artístico literátrio. Esquecem-se os sonetos, esquecem-se as rimas «de trazer no bolso», esquecem-se as sílabas métricas, na literatura e na poesia, ganha forma um movimento completamente inovador e permissível que desrespeita e rompe com todos os conceitos.
Zeca Afonso, com o seu olhar misterioso e a sua criatividade genial, Manuel Alegre, embalado numa eterna «nau de verde pinho» fez frente ao governo ditatorial, e Ary dos Santos, o grande ícone do vício e da boémia das ruelas bairristas lisboetas e teórico impiedoso, foram dos que mais marcaram.
Manuel Alegre
Alexandre O'Neill também é um nome de referência na poesia contemporânea potuguesa. O Adeus Português e Há Palavras que nos Beijam marcam a fundo a poesia portuguesa. Mariza, já no século XXI, dá voz a este último poema, levando-o pelo mundo, nos seus espectáculos. Cantou-o no Carnaggie Hall, em Nova Iorque, no Royal Albert Hall, em Londres, e na Ópera de Sydney, em Sydney, e em muitos outros lugares pelo mundo fora. A sua poesia conserva o desgosto que os seus amores, que o mundo, lhe trazem.
Pedro Homem de Melo surge como outro dos grandes, mesmo que esquecido pela atualidade. Foi ele quem escreveu Povo que lavas no rio, interpretado por Amália Rodrigues. A sua escrita, inovadora mas tradicionalista e folclorista, apoiava os costumes, a moral, e o regime. Oriundo de famílias aristocráticas, apoiantes do regime salazarista, Homem de Melo apoiou com a sua poesia o governo e, talvez por isso, tenha sido mutuamente esquecido, mesmo tendo uma produção riquíssima e de importância notável.
Eugénio de Andrade
Eugénio de Andrade e António Gedeão, dois dos maiores génios da poesia contemporânea. O primeiro custou a entrar no restrito círculo literário de vanguarda; a sua poesia pouco aceite, aparentemente sem nexo, o seu génio ainda inerte aos olhos da sociedade intelectual. Nos anos setenta, com a ostentação do regime liberal democrático, a sua genialidade é redescoberta e Eugénio de Andrade. Foi galardoado com o Prémio Camões.
Sophia de Mello Breyner, outra autora a ser distinguida, em 1999, com o Prémio Camões, torna-se na mais famosa poetisa do século XX, a par de Florbela Espanca, do modernismo literário. Escreveu também vários contos para crianças, lecionados atualmente nas escolas primárias portuguesas, como A fada Oriana. O seu génio criativo é perturbante e impetuoso, os seus enredos memoráveis e ostentam a sua proeminente imaginação.
António Gedeão é mais um dos criativos poetas de intervenção, autor da sempre célebre Pedra Filosofal. David Mourão-Ferreira, Fiama Hasse Pais Brandão, Ruy Belo, entre outros, também entram no restrito mote elitista de escritores contemporâneos de Portugal.
João Apolinário, também ligado à poesia de intervenção, surge no panorama literário português e brasileiro, com importantes e valorosas contribuições para a cultura dos dois países. A sua obra é palco de um intercâmbio notável entre as culturas brasileira e portuguesa, adaptando-as mutuamente. Foi também um distinto jornalista, em São Paulo.
No panorama literário emergem Maria Aliete Galhoz, Agustina Bessa-Luís, José Régio, Maria Velho da Costa, Miguel Torga, também emergente no âmbito da poesia, António Lobo Antunes, e, mais recentemente, Susana Tâmaro, autora do best-seller Vai onde te leva o coração. Miguel Torga, explorando a poesia e a prosa, criou a sua própria revolução, uma «revolução rural», já que vivamente retrata o panorama rural com que convivia ele e Portugal.
Deputada à Assembleia da República, Natália Correia defendeu constantemente o património açoriano cultural e histórico, tornando-se num dos principais vultos da literatura e da poesia portuguesas contemporâneas.
Impossível não referir José Saramago, o «grande» da literatura portuguesa, e o único autor português a vencer o Nobel de Literatura, devido ao incorruptível e memorável Memorial do convento.
Lídia Jorge, com vários romances que se tornaram sucessos, como a Costa dos Murmúrios, adaptado para cinema, encontra-se na elite da literatura da actualidade. Os seus livros revelam numerosos os «segredos» do Algarve, região onde nasceu e foi humildemente criada a autora. A sua obra é também palco de uma enorme sensibilidade feminina.
Emergente no âmbito da poesia, surge Joel Lira, um seixalense distinto pela sua fértil e ambiciosa imaginação. Sombras do meu Sentir é o seu mais conhecido livro, levando o leitor para um abismo entre a tristeza e a alegria do sujeito lírico.
fonte: wikipedia
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